Tenho
lido as críticas da direita desmerecendo o filme por que, segundo eles, a
narrativa mostra que a democracia começou quando o Lula ganhou a eleição de
2002 e terminou quando tiraram a Dilma, isso tudo seria motivado por grande fator
tendencioso pró Lula que o filme quer passar. Provavelmente a raiva antipetista
que cegou as pessoas recentemente as faça ter essa visão estreita, mas vamos
lá, isso aqui é cinema e não política.
A
diretora Petra Costa explora de forma muito coerente no documentário o tema da
democracia brasileira e a sua construção após a ditadura militar, inclusive
misturando a sua vida ao tema em questão. A atual democracia da seus primeiros
passos em 1985 com a abertura política e inicia efetivamente com as eleições de
1989 sobre a égide da nova constituição, nesse ínterim a diretora foi sucinta,
não entrou em detalhes sobre os eventos que levaram até 1989 como os debates
sobre a constituição e como os arranjos políticos se deram, pra uns isso é
relevante e daria mais conteúdo ao filme, pra diretora esse não é o momento que
a democracia começa ruir e por isso não tiveram o maior destaque no filme.
A diretora não é isenta da
realidade, ela fala do esquema do mensalão, critica as parcerias com o PMDB,
fala da descoberta do pré-sal, fala das empreiteiras e aqui também mistura a
vida de sua família ao que acontece com a democracia Brasileira. Fala dos prós
e contras do governo do Lula e posteriormente do governo Dilma, mostra as vozes
de quem concorda e de quem discorda da política feita pelo Lula e Dilma e são
essas vozes em contraponto que é exemplifica o que é democracia pra diretora,
elas estão o tempo todo ali no filme.
A sequência dos fatos chega
até a segunda eleição de Dilma quando Aécio não aceita o resultado do pleito e
começa a lutar para desestabilizar o governo, segue os protestos de 2013,
inicia e cresce o antipestismo com apoio da mídia e a ascensão das mídias
sociais, a lava jato e sua parcialidade aparece, acordos nacionais, surge
Bolsonaro que exalta aquilo que a democracia queria deixar pra traz, a ditadura
militar. Mas como diz a diretora no filme, é uma democracia fundada no
esquecimento.
Para algumas pessoas talvez
faltem fatos relevantes da história brasileira, mas percebam que a questão aqui
não é política, a questão proposta pela diretora não é esmiuçar essa história,
mas mostrar como a frágil democracia brasileira é em si própria tão frágil por
diversos motivos e como isso é assustador. A licença poética com que ela
mistura sua vida e de seus familiares a da democracia brasileira é o que faz a
narrativa ganhar o fluxo que tem, isso misturado com as cenas de arquivo e no
cerne dos eventos atuais aos quais a diretora se dispões a discutir. Isso é
lindo, isso é a poesia, isso é o cinema documentário maravilhosamente lapidado
na ilha de edição depois de horas de decupagem para criar uma narrativa que
sustente o questionamento.
Trailer de Democracia em Vertigem de Petra Costa
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