O Clássico texto sobre a tese dos Cyberdingos do Carlos Eduardo Miranda. O Texto foi publicado em 1994 na também famosa revista General, e eu tive acesso pelo zine Scream & Yell no final dos anos 90, o Marcelo Costa subiu as edições do zine no site e, trocando uma ideia com elei no twitter eu consegui reler o texto. Como não encontrei o texto em lugar nenhum da internet e por achar que se trata de uma verdadeira pérola do jornalismo underground do Brasil, coloco aqui para a galera conhecer ou reler.
"CYBERDINGO - por Carlos Eduardo Miranda
Chinelo é a puta que o pariu! Outro dia o Humberto Gessinger e o Carlos Maltz, aqueles engenheiros, falaram para o brod Alex Antunes que eu era o príncipe da chinelagem. Falaram também que o Alex era um tremendo chinelo. Explico. Chinelo, em bom gauchês, é o sujeito largadão que sabe se dar bem, que tira leite de pedra.
Fiquei orgulhoso com a consideração dos conterrâneos, mas encanei com a especificidade do termo.
Ai fica todo mundo falando nessa besteira de nerd de cyberpunk, que não passa de ficção científica casca grossa. Os Ratos de Porão, o Sepultura... viviam todos falando que não sei quem era o maior "dingo" - uma abreviatura útil e bacana de mendigo.
Juntei a goiabada com o queijo (nunca comi essa porra de Romeu & Julieta) e cheguei à conclusão: chinelo porra nenhuma, eu sou é cyberdingo.
Muito mais jóia. Nomezinho todo bacana. Meio gringo, meio brazuca. Perfeito!
E não sou só eu. Tem uma porrada de cyberdingos espalhados por ai.
"Mas e ai velhinho, que negócio é esse de cyberdingo?"
É o seguinte. O cara anda sempre esculhambado, de chinelo (olha ele ai), tênis velho, bermuda, camiseta de restaurante (ou qualquer coisa que o valha), uns jeans bem chumbados... mas não é grunge, note-se bem.
Quer dizer, não precisa obrigatoriamente gostar daquela curumela de Seatle, nem usar barba de bode e esses quetais todos.
Até ai é fácil ser cyberdingo. O negócio aperta no próximo requisito:
O malandro precisa saber se dar bem. Ter alguma relação cibernértica com alguma realidade que o cerque.
Pode morar num lugar todo escangalhado, mas tem que ser bem localizado. Não precisa ter um enfeite, que seja. Nem sofá, mesa, abajur e essas viadagens todas. Um colchão, um fogão e um refrigerador (ou quase isso) já basta de infra.
Agora, tem o principal que é estar bem munido de um equipamento de som, TV, videocassete, vídeo-game e montanhas de discos, CDs, revistas, livros, vídeos estranhos...
Um computadorzinho também vai bem. Pra quê? Pra ficar informado, ô mané! "Dingo" sem informação não é "Cyber".
Cyberdingo também come qualquer croquete de boteco, entretanto tem a manha da boa cozinha. Janta em restaurante classe A pelo menos uma vez por quinzena. No começo até dá umas "gafes", no item boas maneiras, mas bom observador que é, com o tempo pega as manhas. Sem deixar soltar um arroto quando lhe convir.
Cyberdingo viaja até de mula. Isso quando não está bem descolado em um avião. Transporte que utiliza sem nenhuma cerimônia.
Uma vez, voltando de Recife, fui recolhido direto da piscina do hotel para o aeroporto e cometi a asneira e, além trajar os habituais chinelos, estar de calção. Molhado. Quase congelei no ar-condicionado e nunca mais repito a besteira. Como disse, o cara vacila, mas pega as manhas.
Cyberdingo também não paga pra entrar em show, é convidado para todas as festas e, mesmo que não queira, acaba saindo vez ou outra na coluna social.
Ainda conhece pelo nome toda a vizinhança - estratégia social mais do que recomendável para maluco que quer ser respeitado no pedaço - e consegue pindura em qualquer boteco da região.
Sem contar que odeia documentos, honra sempre suas dívidas, vai em reunião de bacanas todo esculhambado - e ainda assim é respeitado - e descola cheque especial no banco e cartão de crédito.
Pra fechar, a cyber-regra-dingo-básica n° 1: "Nunca mendigar, sempre se descolar" Experimente.
Exemplos? Max e Igor Cavalera, João Gordo, Al Jourgensen e Paul Baker, a galera do Yo-Ho-Delic, o brod Scowa, Mike Patton. O video-maker Eduardo Xocante, os Red Hot Chilli Peppers, o Alex Antunes, Calvin (so what), André e Cherry (Okotó), Júlio (MTv), Ivan David e Beto Guimarães (Psycho Drops), Jello Biafra e Chico Science, o De Falla inteiro, Alex Newport, Carlo Pianta, (Graforreia Xilarmonica), Chris Skepis (Pit Bulls on Crack), eu mesmo, a Tati e mais um trilhão de doidos espalhados pelo mundo."
"CYBERDINGO - por Carlos Eduardo Miranda
Chinelo é a puta que o pariu! Outro dia o Humberto Gessinger e o Carlos Maltz, aqueles engenheiros, falaram para o brod Alex Antunes que eu era o príncipe da chinelagem. Falaram também que o Alex era um tremendo chinelo. Explico. Chinelo, em bom gauchês, é o sujeito largadão que sabe se dar bem, que tira leite de pedra.
Fiquei orgulhoso com a consideração dos conterrâneos, mas encanei com a especificidade do termo.
Ai fica todo mundo falando nessa besteira de nerd de cyberpunk, que não passa de ficção científica casca grossa. Os Ratos de Porão, o Sepultura... viviam todos falando que não sei quem era o maior "dingo" - uma abreviatura útil e bacana de mendigo.
Juntei a goiabada com o queijo (nunca comi essa porra de Romeu & Julieta) e cheguei à conclusão: chinelo porra nenhuma, eu sou é cyberdingo.
Muito mais jóia. Nomezinho todo bacana. Meio gringo, meio brazuca. Perfeito!
E não sou só eu. Tem uma porrada de cyberdingos espalhados por ai.
"Mas e ai velhinho, que negócio é esse de cyberdingo?"
É o seguinte. O cara anda sempre esculhambado, de chinelo (olha ele ai), tênis velho, bermuda, camiseta de restaurante (ou qualquer coisa que o valha), uns jeans bem chumbados... mas não é grunge, note-se bem.
Quer dizer, não precisa obrigatoriamente gostar daquela curumela de Seatle, nem usar barba de bode e esses quetais todos.
Até ai é fácil ser cyberdingo. O negócio aperta no próximo requisito:
O malandro precisa saber se dar bem. Ter alguma relação cibernértica com alguma realidade que o cerque.
Pode morar num lugar todo escangalhado, mas tem que ser bem localizado. Não precisa ter um enfeite, que seja. Nem sofá, mesa, abajur e essas viadagens todas. Um colchão, um fogão e um refrigerador (ou quase isso) já basta de infra.
Agora, tem o principal que é estar bem munido de um equipamento de som, TV, videocassete, vídeo-game e montanhas de discos, CDs, revistas, livros, vídeos estranhos...
Um computadorzinho também vai bem. Pra quê? Pra ficar informado, ô mané! "Dingo" sem informação não é "Cyber".
Cyberdingo também come qualquer croquete de boteco, entretanto tem a manha da boa cozinha. Janta em restaurante classe A pelo menos uma vez por quinzena. No começo até dá umas "gafes", no item boas maneiras, mas bom observador que é, com o tempo pega as manhas. Sem deixar soltar um arroto quando lhe convir.
Cyberdingo viaja até de mula. Isso quando não está bem descolado em um avião. Transporte que utiliza sem nenhuma cerimônia.
Uma vez, voltando de Recife, fui recolhido direto da piscina do hotel para o aeroporto e cometi a asneira e, além trajar os habituais chinelos, estar de calção. Molhado. Quase congelei no ar-condicionado e nunca mais repito a besteira. Como disse, o cara vacila, mas pega as manhas.
Cyberdingo também não paga pra entrar em show, é convidado para todas as festas e, mesmo que não queira, acaba saindo vez ou outra na coluna social.
Ainda conhece pelo nome toda a vizinhança - estratégia social mais do que recomendável para maluco que quer ser respeitado no pedaço - e consegue pindura em qualquer boteco da região.
Sem contar que odeia documentos, honra sempre suas dívidas, vai em reunião de bacanas todo esculhambado - e ainda assim é respeitado - e descola cheque especial no banco e cartão de crédito.
Pra fechar, a cyber-regra-dingo-básica n° 1: "Nunca mendigar, sempre se descolar" Experimente.
Exemplos? Max e Igor Cavalera, João Gordo, Al Jourgensen e Paul Baker, a galera do Yo-Ho-Delic, o brod Scowa, Mike Patton. O video-maker Eduardo Xocante, os Red Hot Chilli Peppers, o Alex Antunes, Calvin (so what), André e Cherry (Okotó), Júlio (MTv), Ivan David e Beto Guimarães (Psycho Drops), Jello Biafra e Chico Science, o De Falla inteiro, Alex Newport, Carlo Pianta, (Graforreia Xilarmonica), Chris Skepis (Pit Bulls on Crack), eu mesmo, a Tati e mais um trilhão de doidos espalhados pelo mundo."
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